O sono do recém-nascido explicado por uma Terapeuta do Sono

São infindáveis os temas tratados na preparação para o parto e parentalidade na puericultura moderna. Desde a amamentação à temperatura da água do banho, tudo é ensinado aos futuros papás. No entanto, parece-me que se fala tão pouco de um assunto tão fundamental, o sono do recém-nascido.Será que a ideia de que os recém-nascidos dormem várias horas seguidas é verdadeira? Será que fazer as sestas com luz e com barulho ajuda a distinguir o dia da noite? Vamos então falar de sono do récem-nascido.O sono é uma função biológica evolutiva. Está em constante mudança sendo essas mudanças mais acentuadas no primeiro ano de vida.

De uma forma simples, o sono dos adultos vai alternando entre 4 fases, os bebés quando nascem têm apenas 2 fases do sono – sono ativo e sono tranquilo. Estas duas fases vão maturando ao longo do desenvolvimento do bebé, por isso, a forma como ele dorme vai mudando.Não é necessário ensinar um bebé a dormir, da mesma forma que não têm de o ensinar a fazer xixi ou a comer. Todos os bebés nascem a saber dormir, eles já o faziam no útero da mãe sem qualquer intervenção nossa. Se compreendermos melhor as necessidades de um recém-nascido talvez sejamos capazes de encarar o sono de outra forma.Um recém-nascido dorme, em média, entre 14h e 20h horas por dia. E que bom que seria para os adultos que fossem 10 horas seguidas durante a noite e 6 horas em sestas durante o dia! Pois, mas não é assim.

Um bebé precisa alimentar-se com frequência, por isso as sestas são curtas, geralmente períodos de 1h ou menos. Estes tempos estão relacionados com a arquitetura dos ciclos de sono nesta idade.Nas primeiras 6 a 8 semanas o sono do recém-nascido designa-se de ultradiano, significa isto que não há distinção entre sono diurno e sono noturno. Vamos aproveitar esta informação para desconstruir 2 mitos sobre o sono do recém-nascido:Apesar de a maior parte dos bebés já o fazer antes, da mesma forma que alguns bebés caminham com 11 meses e outros com 18, a zona do cérebro responsável pela regulação do ritmo de sono e vigília – o núcleo supraquiasmático – só está madura pelos 4 meses.

Por isso, antes desta idade as rotinas não têm um papel tão essencial como terão à posteriori.Não. Esta é uma das “recomendações” mais frequentes e que mais dificulta o sono dos bebés. O sono diurno é tão importante como o sono noturno e, por isso, deve ser feito em condições favoráveis ao sono – pouca luz e silêncio. A exposição à luz é essencial na regulação do sono mas esse é um trabalho para os períodos em que o bebé está desperto.Além da alimentação, o contacto físico é uma necessidade vital do bebé que acabou de chegar ao mundo. Estar perto da mãe, em contacto estreito e direto, é uma necessidade tão básica. Uma necessita tão básica como comer ou dormir!

Vários estudos demonstram que bebés que fazem contacto pele a pele com a mãe choram menos e regulam melhor o sono. Por isso, um recém-nascido precisa de colo, precisa de contacto. É normal que durma melhor desta forma e isso não significa que será sempre assim, esta é uma necessidade neste momento e deve ser atendida sem medos.Não faz sentido tentar introduzir rotinas rígidas num recém-nascido. O importante é olhar para o nosso bebé, ele dá-nos sinais. Antes dos 3 meses os bebés não aguentam mais do que 1 hora acordados. Alguns pais poderão pensar: “Ai o meu aguenta”, sim poderá aguentar, mas estará a acumular cansaço dificultando a sesta seguinte.

É importante antecipar os sinais de sono do recém-nascido. Isso permite que o bebé durma antes de estar demasiado cansado e já não ter “competência” para o fazer. O que acontece quando adormecemos um bebé demasiado tarde? Luta contra o sono, choro e um sono curto.Em suma, o recém-nascido precisa de pouco para dormir: precisa de colo, contacto físico, precisa que o pai e a mãe namorem muito com ele apresentando-lhe o novo mundo com muita calma.

Andreia Neves, Técnica Superior de Diagnóstico e Terapêutica, trabalha em Medicina do Sono no Hospital de São João. Faz parte da equipa da Amamenta Porto.

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