Por muito que falemos na fisiologia do parto, em exercícios respiratórios facilitantes para essa altura, em mudança de posições corporais, em plano de parto e em procedimentos hospitalares, se não soubermos quais as necessidades que precisam estar satisfeitas durante o parto para que este aconteça, pouco nos serve tanta informação!Foi Dr. Michel Odent que nos apresentou o “cocktail de hormonas” e as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto.Para que o parto tenha início e se desenrole, é preciso que a hormona oxitocina atinja níveis nunca antes produzidos.
É durante o parto que a mulher tem os maiores níveis de oxitocina durante toda a sua vida e é exactamente no momento do expulsivo que atinge o seu pico.Esta é também conhecida pela hormona do Amor. É a hormona que todos produzimos quando abraçamos alguém, quando sentimos empatia, carinho por alguém ou alguma coisa, quando nos deixamos encantar pelo pôr do sol, quando nos apaixonamos e quando temos orgasmos.Esta hormona é oposta à adrenalina, que tão bem conhecemos. Enquanto a oxitocina nos faz derreter o coração, a adrenalina injecta-se nos nossos músculos para nos fazer mexer, correr e fugir.
Quando a adrenalina aumenta no nosso corpo, a oxitocina diminui.
E quando a oxitocina aumenta, a adrenalina diminui.As necessidades básicas da mulher em trabalho de parto quando satisfeitas aumentam e mantém a oxitocina em níveis altos. Por outro lado, quando não estão satisfeitas, aumentam a adrenalina e por isso, atrapalham tanto o decorrer do trabalho de parto.Fome/Sede:
Quando sentimos fome ou sede começamos a produzir adrenalina. Por isso, é totalmente aconselhável que a mulher tenha água e alimentos de fácil digestão disponíveis durante o trabalho de parto para se sentir vontade.Temperatura:
Quando sentimos frio começamos a produzir adrenalina. Mantemos o corpo tensionada, contraído e o objectivo é o oposto. Manter os músculos relaxados e todo o corpo descontraído.
Mesmo no pico do Verão, durante o parto, é comum a mulher sentir frio. Por isso, vão preparadas com meias e uma manta se for o caso, para se manterem confortáveis termicamente.Luz:
Quando estamos em ambientes luminosos, chega-nos muito mais informação do que quando estamos em ambientes mais escuros.
No momento do parto, o neocórtex da mulher (a zona mais recente do cérebro responsável pelo raciocínio e linguagem) é colocado em stand by para que a zona mais primitiva, animal e instintiva entre em acção.
Quanto mais luz houver, mais temos tendência para observar, analisar e manter o raciocínio quando o objectivo é exactamente o oposto.Linguagem:
Exactamente pela mesma razão da Luz. Quanto mais falamos, mais recorremos ao neocórtex. E nesta altura, é tudo o que não desejamos.
As perguntas devem ser curtas e de resposta rápida, para que a mulher não tenha de pensar muito.Privacidade:
Quando nos sentimos expostas e observadas começamos a produzir adrenalina para fugirmos. Durante o parto, não é comum as mulheres gostarem de ter olhos em cima delas.
É fundamental manter o espaço de conforto de cada mulher, deixá-la com o companheiro ou quem escolher para a acompanhar e manter alguma distância e discrição.Segurança:
Como mamíferas que somos, só parimos onde nos sentimos seguras.
Tal como os animais procuram a noite por ter menos predadores, também nós procuramos um local onde nos sintamos seguras para poder parir a nossa cria.Se virmos e compararmos estas necessidades básicas com a relação sexual, podemos encontrar muitas semelhanças.
Na verdade, o parto é um evento sexual na vida da mulher.
E a diferença entre uma relação sexual prazerosa, entregue e orgásmica e o parto é quase nula.Pergunta-te:
“Entrego-me à relação sexual quando…
- sinto fome?
- tenho frio?
- tenho muita informação visual a chegar?
- há muita conversa?
- me sinto exposta ou com falta de privacidade?
- estou num local onde não me sinto segura?”
Será muito semelhante no teu parto. Lembra-te que somos mamíferas e há instintos inatos.
No momento do parto devemos exactamente permitir-nos ser instintivas.
Este é o segredo para que o parto se desenrole natural e plenamente.
Catarina Gaspar, Doula.